domingo, 10 de julho de 2011

Milagres de Miranda




Aqui os anjos tocam seus alaúdes pela noite
e os pássaros entontecidos cantam ao luar.

Pelas estradas bordejadas de freixos, no rendilhado dos lameiros verdejantes, escondidas detrás de uma suave colina, espreitam as ninfas ao entardecer.

Na penumbra fresca da igreja que do sol inclemente protege os fiéis,
no segredo da terra barrenta que se prende a nossos pés,
sob a telha do estábulo, entre as bestas e o estrume,
no murmurejar da água que corre das fontes,
no zurrar distante do burro,
no balir das ovelhas,
são risos que se desprendem dos céus.
E mesmo aqueles que duvidam, se tornam crentes
E mesmo aqueles que desesperam, se tornam fortes.
Há qualquer coisa nesta terra de divino
Um sopro de vento e somos asas
Um bafejar de vaca e somos vivos
Uma oração e somos lágrima.
(...)
Não me admiraria se do alto de uma oliveira, sob um céu róseo, se erguesse uma doce senhora que a todos falasse sem pronunciar palavra e que por ali pairasse até ao anoitecer...
Há lugares como este em que os milagres acontecem
Naturalmente.

                                                                      Maria Terra