domingo, 23 de setembro de 2012

desenha-se um corpo em forma de ave
e uma ave em forma de corpo
um corpo capaz de abraçar
outro corpo
e os dois fazem um corpo que é mais que a soma dos dois
que é ave e que voa
e que amanhece na forma de lua e que cintila como as estrelas

desenha-se um corpo na montanha
um corpo que uiva e que geme e se debruça do alto
um corpo que plana docemente sobre a planície

Marc Chagall

um corpo branco como as casas
liso como sol que se derrama pelas janelas abertas

desenha-se uma manhã, após outra
o melhor possível
um corpo dentro de um corpo que se ama
e desse corpo estéril, se faz  rosa
 rubra e forte
e dela, apenas as vagas tormentosas
o cheiro da espuma
tropel de corações

e desse corpo arqueado sobre o sonho de outro corpo
se faz esperança
pequena e  frágil
ágil
volátil

trémula e viva.

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